sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Vinte anos sem Drummond


Há vinte anos, exatamente no dia 17 de agosto de 1987, morria o maior poeta brasileiro do século XX, Carlos Drummond de Andrade. Em uma de suas últimas entrevistas, Drummond disse que ele, como muitos outros poetas, estava fadado a cair no ostracismo após a morte.
Drummond, que bom que estava errado.
A importância de sua poesia à literatura é inquestionável. Passados todos esses anos de sua partida, o que se pode constatar é que ele ainda continua sendo muito estudado, seja nos centros acadêmicos ou não. Chegou, inclusive, a ganhar um belíssimo documentário em 2002 retratando sua vida e poesia: Poeta de sete faces.
Além dos estudos relacionados à sua obra, o poeta nunca teve seus poemas tão cobrados em vestibulares e concursos públicos como atualmente. Um reconhecimento da sua importância como homem e poeta, pois seus escritos transformam quem os lê e entende.
A poesia do poeta de sete faces é um prazer que envolve quem a lê. Tem a capacidade de falar de assuntos complicados usando linguagem simples, transformando-os em triviais. Encontram-se nela o José com inúmeras indagações (E agora, José?); a Maria, o Joaquim, o Raimundo, Teresa e Lili, (Quadrilha) pessoas em desencontro amoroso, amam e não são correspondidas; um pobre Carlos que ouve: Carlos, sossegue, o amor isso: / hoje beija, amanhã não beija.
Cada verso lido é um retrato que salta aos olhos do leitor. Em tentativas bem sucedidas, o bardo mineiro explica as complicações do amor, sem querer consolar, mas mostrando as suas armadilhas e recompensas, pois como ele dizia: Amar o perdido / deixa confundido esse coração.
O drama da violência não fica de lado, é nos mostrado com toda frialdade ao provar que a sociedade cada vez mais banaliza a vida em defesa dos bens materiais, como o caso do leiteiro que morre ao ser atingindo na madrugada por uma bala ao cumprir seu trabalho de entregador. (Morte do leiteiro)
Qualquer tentativa de explicar o que foi e é Drummond, será uma tentativa mínima devido à imensidade poética de sua obra e vida. Uma das boas alternativas para chegar perto de um entendimento de ambas, é esquecer teorias e adivinhações sobre o que ele quis ou não dizer com seus versos. Ler Drummond requer uma entrega ao encanto de sua poesia, é deixá-la ser o guia ao mundo maravilhoso das palavras e sentimentos que nos compõem.
Mais importante que estar em vestibulares e concursos públicos, é fazer de sua poesia uma oração diária e interminável, uma oração que não atinge a vida espiritual, mas a vida real, a vida em que usamos palavras, olhares e ações com quem amamos e convivemos.
A poesia de Drummond nos revela a verdade daquilo que fomos, somos e seremos, às vezes uma verdade dolorida, a qual não podemos negar, mas e daí? É justamente na dor que crescemos e aprendemos a ser seres humanos de verdade.
Drummond, você nos ensinou a rir e a chorar, você não é moderno: é eterno.


Vitor Miranda