quarta-feira, 21 de abril de 2010

Necessidades textuais


A área de Língua Portuguesa nas escolas tem como preocupação no ensino o desenvolvimento da linguagem, leitura e escrita. Isso para uma pessoa um pouco esclarecida não é nenhuma novidade, como também não é novidade que para se formar um aluno produtor de bons textos, antes ele deve ser um leitor, de preferência, de bons textos.
Penso que na atualidade os jovens, mais do que nunca, estão precisando de bons textos para que desenvolvam tanto sua competência linguística, interpretativa e de produção textual. Essa necessidade de leituras de qualidade se dá pelo fato do bombardeio de textos, verbais e principalmente não-verbais, geralmente de conteúdos vagos ou mesmo nulos.
Quando o jovem acessa a internet, o bombardeio começa. Páginas de autoridade duvidosa, sites de relacionamento e bate-papo virtual são mananciais de “lixo informativo e comunicativo”. É possível encontrar adolescentes aos milhares participando de grupos de discussão, os chamados fóruns, a respeito de temas os mais banais possíveis. Entre tanta banalidade, se encontram temas como: “nunca morri, detesto acordar cedo, minha cidade tem semáforo” e por aí afora.

Tanta sucata virtual acaba por influenciar o pensamento e a linguagem. Aquele se configura na alienação e atrofiamento do pensar, enquanto esta se torna um rebuscamento moderno que daria inveja a qualquer poeta barroco, tamanha a dificuldade de se entender a mensagem que se quer passar.
Palavras que exigem o mínimo de compreensão como, por exemplo, “você”, se transfigura num mísero e pobre “v”. Isso mesmo! Usa-se apenas a primeira letra para “tentar” passar o sentido da palavra. E o engraçado é que muitas vezes nem quem a utiliza diariamente consegue decodificá-la.
Muita gente liberal diz que isso não possui nada de negativo. Dizem que a molecada está falando com seu próprio código, porém já pode ser comprovado que tal pensamento em grande parte é errôneo. Muitos jovens já estão transportando tal código para textos formais, os quais não permitem tamanha modernização linguística.

Uma outra fonte de prejuízo está na televisão. Cada vez mais há programas repetitivos (novelas maniqueístas e séries enlatadas abordando a violência entre o mocinho e o bandido) e sem nenhuma pretensão educacional ou cultural.

No Brasil, os reality shows estão na moda. Vigiar a vida alheia e decidir se o fulano deve ou não ganhar o prêmio tornou-se uma diversão e dever de muitos brasileiros. Afinal, no dia seguinte não interessa saber quem ganhou o Nobel da Paz ou de Literatura, o político que desviou dinheiro público ou se o planeta está mais poluído. Ora essa, o que interessa é saber se A ou B foi eliminado do programa. Não saber quem foi o vencedor ou eliminado é como se uma parte da vida tivesse se perdido.

Na escola, então, o que resta ao professor que ainda heroicamente tenta transformar seu aluno em leitor e produtor de texto? A ele sobrou um tempo mínimo de cinco aulas semanais, em média, para lutar contra um sistema covarde “cultural” que usufrui mais de dez horas do nosso jovem, promissor, crítico e cidadão brasileiro. Um longo tempo de palavras e imagens que compõem informações na sua maioria insignificantes.

Com o pouco tempo, o professor deve insistir para que seu pupilo se dedique a Machado de Assis, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e, consequentemente, esboce seu pensamento crítico e redija textos coesivos e coerentes, dignos de prazer para quem os lê.
Mantendo um pequeníssimo fio de esperança, fico na expectativa de que o quadro mude. Torço para que um dia nossos comandantes percebam que ainda há tempo de salvar o barco. Os obstáculos estão cada vez mais próximos e poderosos, mas com um mínimo de reflexão é possível enxergá-los e desviar para o caminho de mares nunca dantes navegados, porém cheios de riqueza cultural e humana.

Vitor Miranda

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vamos comemorar como idiotas


Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

Os versos acima, do poeta Gregório de Matos, ilustram bem os 61 anos de Serrana, SP. Nossa cidade completa nesta sábado (10) 61 anos e, infelizmente, como presente já recebeu ruas repletas de buracos e obras iniciadas e paralisadas, principalmente a Serafim do Bem. Esta, diga-se de passagem, fica no centro.

O que é difícil de entender é o porquê de se conseguir facilmente verba para shows caríssimos e por outro lado não ocorrer o mesmo para obras que trariam muitos benefícios para a população.

Vivemos hoje uma política serranense com excessos de blá-blá-blás e pouquíssimas práticas. Não se vê resultado em quase nada por aqui. Há problemas enormes com a saúde, educação e trânsito, por exemplo.

Às vezes para uma simples extração de dentes agenda-se para daqui um mês ou mais e alguns remédios básicos e até de baixos custos não são encontrados na farmácia do pronto-socorro.

A educação, que se orgulha da era da informática com suas carteiras digitais em uma das escolas municipais, hoje está há mais de um ano sem sua biblioteca municipal. Quem quiser pesquisar ou mesmo ter um livro emprestado para ler, deve procurar outra alternativa. Os alunos e outras pessoas ficam restritos a pesquisar e ler na internet. Com isso, o nível de leitores que já é baixo no Brasil e por aqui também, se compromete ainda mais. Isso porque poucos têm acesso à internet e por ela ter muitas ferramentas que dispersam a atenção dos alunos. Nossa biblioteca está entregue aos cadeados, sujeiras e a alguns cães que por lá dormem à noite.

Nosso trânsito, que por pertencer a uma cidade pequena e possuir semáforos, em tese deveria ser tranquilo, no entanto encontra atualmente alguns problemas. Os buracos, por exemplo, são desafios para quem está ao volante. Desvia-se de um, e logo na frente se encontram mais dois, três, quatro...

A rua Vicente de Paula Lima, conhecida antigamente por “rua do comércio”, perdeu boa parte de suas vendas. Com a inversão de sua direção clássica e consolidada, grande parte das vendas foi sepultada. Tal conseqüência se confirma facilmente com a maioria dos comerciantes. É raro encontrar um deles que não tenha sido prejudicado pela troca da mão da rua.

Ainda sobre trabalhos inacabados, foram colocados outros postes de semáforos em partes do município e até agora não se instalou nenhum deles. (será que é falta de verba?)

Faltando um dia para o aniversário de Serrana, até agora não vi nada que mereça, de fato, uma comemoração para os seus 61 anos. Quem sabe ao acordar amanhã ocorra uma mágica e surja ao menos um motivo.

Vitor Miranda