sábado, 4 de agosto de 2012

Modernismo Caipira 2012


Quando um movimento artístico surge com uma proposta artístico-cultural, digamos, bem diferente daquela até então em vigência, o resultado aos olhos do público, inicialmente, é um espanto, um choque. Foi assim com a turma dos Modernistas em 1922 em São Paulo, quando eles se organizaram para uma semana de arte cujas apresentações artísticas eram totalmente opostas e provocadoras ao padrão artístico da época.
            Algo parecido ocorreu nos dias 28 e 29 de julho em Serrana com o festival anual “Caipiro Rock”. Não foi o primeiro ano do festival, foi a 16ª edição. E o que o tornou “primo” do Modernismo Brasileiro foi a ideia de que a arte e a cultura sempre podem mais e nunca cruzam os braços diante do estabelecido.
            Mas por que justamente a 16ª edição se compara com a turma modernista de quase um século atrás? Bem, o festival antes restrito a uma tribo e espaço, resolveu ganhar novos ares e universalizar-se dentro da pequena cidade ampliando seu alcance e temáticas abordadas. Antes limitado a um clube, a uma rua ou mesmo à sede, o CECAC (Centro de Cultura e Ativismo Caipira), o Caipiro Rock foi à principal praça da cidade, no centro. Com isso diversificou-se o público e mostrou a muitos que em Serrana não há apenas chapéu, fivela, botas e “Ai se eu te pego”.
            Festivais como esse são necessários cada vez mais. Vivemos uma cultura de massas que muitas vezes impossibilita a pessoa a, pelo menos, pensar que pode haver algo diferente daquilo que lhe é imposto. É preciso sair da manipulação de setores midiáticos interessados em apenas lucrar, que impedem o senso crítico e atrofiam o nível cultural do cidadão.
            A necessidade de eventos como o Caipiro Rock se torna ainda mais urgente quando se trata de cidades pequenas do interior como o caso de Serrana. Como as opções de lazer e cultura são muito restritas, o pouco que há, geralmente, traz um comodismo intelectual e social. O Caipiro Rock não veio para impor um estilo musical ou ditar normas para se usar essa ou aquela roupa. Ele veio justamente para dizer que não devemos nunca nos contentar e aceitar certos padrões exigidos por terceiros.
            Ainda relacionando os “caipiras” (o termo aqui não é pejorativo) com os modernistas, viu-se no festival a multiplicidade cultural. Embora tenha nascido há 16 anos como evento musical, a carnavalização tomou conta dos dois dias de apresentações. Música (inclusive com folia de reis), encenações, malabarismo, atividades sociais diversas, enfim, opções a uma comunidade que quase sempre esteve fadada ao mínimo cultural.
            Outro aspecto interessante foi o público. Diferentes gerações presentes e de diferentes esferas sociais. Pais que acompanharam o início do festival há mais de dez anos hoje com os filhos, ou seja, exemplo vindo de casa. Reuniram-se o garoto de moicano, a menina tatuada, o de roupa social, o público da bota e fivela e fez-se o “carnaval”. Todos gostaram do que viram? Não se sabe, mas quem deu as caras na praça percebeu que em Serrana há, sim, opções culturais e sociais.
            Fico no aguardo da próxima edição, torcendo para que em 2013 haja o mesmo propósito.
            Vitor Miranda