Quando
um movimento artístico surge com uma proposta artístico-cultural, digamos, bem
diferente daquela até então em vigência, o resultado aos olhos do público,
inicialmente, é um espanto, um choque. Foi assim com a turma dos Modernistas em
1922 em São Paulo ,
quando eles se organizaram para uma semana de arte cujas apresentações
artísticas eram totalmente opostas e provocadoras ao padrão artístico da época.
Algo parecido ocorreu nos dias 28 e
29 de julho em Serrana com o festival anual “Caipiro Rock”. Não foi o primeiro
ano do festival, foi a 16ª edição. E o que o tornou “primo” do Modernismo
Brasileiro foi a ideia de que a arte e a cultura sempre podem mais e nunca
cruzam os braços diante do estabelecido.
Mas por que justamente a 16ª edição
se compara com a turma modernista de quase um século atrás? Bem, o festival
antes restrito a uma tribo e espaço, resolveu ganhar novos ares e
universalizar-se dentro da pequena cidade ampliando seu alcance e temáticas
abordadas. Antes limitado a um clube, a uma rua ou mesmo à sede, o CECAC
(Centro de Cultura e Ativismo Caipira), o Caipiro Rock foi à principal praça da
cidade, no centro. Com isso diversificou-se o público e mostrou a muitos que em
Serrana não há apenas chapéu, fivela, botas e “Ai se eu te pego”.
Festivais como esse são necessários
cada vez mais. Vivemos uma cultura de massas que muitas vezes impossibilita a
pessoa a, pelo menos, pensar que pode haver algo diferente daquilo que lhe é
imposto. É preciso sair da manipulação de setores midiáticos interessados em
apenas lucrar, que impedem o senso crítico e atrofiam o nível cultural do
cidadão.
A necessidade de eventos como o
Caipiro Rock se torna ainda mais urgente quando se trata de cidades pequenas do
interior como o caso de Serrana. Como as opções de lazer e cultura são muito
restritas, o pouco que há, geralmente, traz um comodismo intelectual e social.
O Caipiro Rock não veio para impor um estilo musical ou ditar normas para se
usar essa ou aquela roupa. Ele veio justamente para dizer que não devemos nunca
nos contentar e aceitar certos padrões exigidos por terceiros.
Ainda relacionando os “caipiras” (o
termo aqui não é pejorativo) com os modernistas, viu-se no festival a
multiplicidade cultural. Embora tenha nascido há 16 anos como evento musical, a
carnavalização tomou conta dos dois dias de apresentações. Música (inclusive
com folia de reis), encenações, malabarismo, atividades sociais diversas,
enfim, opções a uma comunidade que quase sempre esteve fadada ao mínimo
cultural.
Outro aspecto interessante foi o
público. Diferentes gerações presentes e de diferentes esferas sociais. Pais
que acompanharam o início do festival há mais de dez anos hoje com os filhos,
ou seja, exemplo vindo de casa. Reuniram-se o garoto de moicano, a menina
tatuada, o de roupa social, o público da bota e fivela e fez-se o “carnaval”.
Todos gostaram do que viram? Não se sabe, mas quem deu as caras na praça
percebeu que em Serrana há, sim, opções culturais e sociais.
Fico no aguardo da próxima edição,
torcendo para que em 2013 haja o mesmo propósito.
Vitor Miranda
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