domingo, 9 de setembro de 2012

"Nem foi tempo perdido..."


O Romantismo notabilizou-se, entre outros, pelo culto ao passado. Para o romântico, o passado é o tempo a ser exaltado, é nele em que os fatos, bons ou ruins, estão alojados. Pois bem, e na noite de 7 setembro último, o meu passado juvenil caminhou ao bar D. Pedro, na rua 7 de Setembro, em Ribeirão Preto, para me trazer um dos integrantes da Legião Urbana, banda esta que configurou completamente a minha vida. Lá estava o eterno baterista legionário Marcelo Bonfá.
            Bonfá distribuiu carisma e nostalgia a todos. Cantou, tocou, bebeu (mas não se jogou na Lagoa como o personagem do Manuel Bandeira).
            De repente, estava ali um músico que alimentou, junto com seus companheiros de Brasília, uma geração e outras vindouras com músicas sentimentais e políticas. Pensei: por que não temos mais bandas e músicos atualmente com essa mística e talento? Sim, mística! A Legião sempre foi uma banda mística, daquelas que você ama e não quer dar explicação por que ama, afinal, amor não tem e nunca terá explicação.
            Sinto-me um privilegiado por ter na minha juventude e formação o talento sonoro da Legião. Ver o Bonfá tocando a menos de 3 metros de mim era algo imaginável. Senti-me uma criança recebendo o presente tão sonhado e pedido. Confesso que, ao ouvir o Marcelo tocando e cantando “Tempo Perdido”, emocionei-me de forma abrupta. Foi minha maior emoção musical até hoje. As lágrimas vieram.
             Nosso cenário musical atual, infelizmente, furta descaradamente a oportunidade de se ter músicas do calibre da Legião Urbana. O que se tem é um padrão minusculamente estabelecido. Não se dá chance para que a qualidade seja o carro-chefe. Democratizou-se a música, mas amputaram o talento (pelo menos na grande mídia). Assim, é facilmente explicável por que ainda aplaudimos de pé Bonfá e outros tantos que vieram das gerações de 60, 70 e 80.
            Por muito tempo estaremos celebrando Chico Buarque, Raul Seixas e Legião Urbana. Comparado a hoje, o passado, indiscutivelmente, distribuía talentos às pencas. O público era mais exigente e, talvez, mais carente em questões políticas.
            Queria que a noite desse 7 de setembro fosse mais longa, porém a ampulheta não para, sua areia escoa sem regras. Ela não se importa se o momento é bom ou ruim. Por outro lado, é bom que o tempo passe. Dessa forma, cria-se o passado e nasce em nosso coração o Romantismo com seus brilhos nostálgicos.
            Diante de todo o Romantismo até aqui exposto e vivido, pego emprestados alguns versos do romântico Casimiro de Abreu e os torno pessoais, meus:

            Oh! Que saudades que tenho
            Da aurora da minha vida,
            Da minha ADOLESCÊNCIA querida
            Que os anos não trazem mais!
Vitor Miranda 

2 comentários:

tiao disse...

Belo texto...esse literalmente não foi um TEMPO PERDIDO..."FORÇA SEMPRE"

tiao disse...
Este comentário foi removido pelo autor.