quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Por baixo da máscara

Os primeiros resultados da Lei Seca provocaram grande euforia em boa parte da população e imprensa. De fato, a diminuição de acidentes no trânsito é uma notícia que se deve comemorar muito. Não se pode negar que a maior importância que existe é a vida. Criar medidas para que o número de acidentes no trânsito diminua é ação esperada pela maioria da população. O que se deve tomar cuidado é como isso será ou é feito. Dar créditos totais à Lei Seca pelo baixo número de acidentes em relação aos anos anteriores é uma falha. A Lei Seca é apenas uma máscara para a real razão de mais vida e menos acidentes no trânsito.
A Lei Seca não é uma novidade. Ela já existia, apenas não era colocada em prática. Ao sair do papel, vieram os resultados. A intensa fiscalização nas cidades e rodovias está por trás da máscara. O alto número de policiais direcionado para as blitzes tornou a lei realmente efetiva. Cercado nas esquinas das cidades e nas pistas, o motorista alcoolizado é facilmente autuado. Ele enfrenta agora não apenas a lei, mas seu executor. A lei sem seu representante é apenas uma marionete sem o manipulador.
Ainda por baixo da máscara dela, está a imprensa. A intensa fiscalização encontrou na imprensa uma forte aliada para propagar a aplicabilidade da lei. A mídia, em geral, explorou e vem explorando muito o assunto. Os holofotes dela brilham quando há um alcoolizado detectado pelo bafômetro. Brilha ainda mais quando o alcoolizado é uma celebridade. Aliás, celebridade mesmo é a própria Lei Seca. Ela tornou-se motivo de espetáculo nos meios de comunicação. Um espetáculo rigoroso, buscando justiça a qualquer preço.
Esta lei, na verdade, é uma eficiência repleta de um grande rigor. Chega-se ao absurdo de alguém ser detectado mesmo usando anti-séptico bucal ou comendo alguns bombons de licor. Não há bom senso. Pagam pelo “crime” da mesma forma o alcoolizado e aquele que fez a higiene da boca com anti-séptico bucal. Sobra rigor e falta bom senso.
Não se deve insistir em não querer enxergar o que está por baixo da máscara da Lei Seca. O interesse nela não é apenas diminuir acidentes no trânsito. Há alguns envolvidos por trás que ganham com o sucesso dela. A imprensa apresenta excessivamente o assunto e lucra. O fulano e o beltrano aparecem como defensores da vida e, claro, tornam celebridades também, mesmo que por alguns mínimos segundos. A Lei Seca, assim, não é usada só com o propósito de preservar a vida. É usada com segundas intenções, e muito bem conhecidas.

Vitor Miranda