Fui a criança deste retrato
na parede desta sala.
Hoje apenas olho nele
com lembrança esquecida
destes meus olhos gastados
em imagens e leituras:
conto, poema e romances.
Na gaveta, uma camisa
fabricada pela avó
compartilha com baratas
um repouso há vinte anos.
(é a camisa do retrato)
Como dói o tempo que foi
e não volta além da mente!
Dá saudade da escola,
do primeiro beijo em boca
de mocinha bem novinha,
da vacina de gotinhas,
da reunião familiar,
do sorvete, do algodão,
das estórias pela mãe.
Casemiro tem razão:
a querida infância acaba
sem jamais voltar com anos
que se vão e aqueles que vêm.
Ah! bondosa é só a memória:
nela somos o relógio
sem nenhum regulamento.
Vitor Miranda