Penso que na atualidade os jovens, mais do que nunca, estão precisando de bons textos para que desenvolvam tanto sua competência linguística, interpretativa e de produção textual. Essa necessidade de leituras de qualidade se dá pelo fato do bombardeio de textos, verbais e principalmente não-verbais, geralmente de conteúdos vagos ou mesmo nulos.
Quando o jovem acessa a internet, o bombardeio começa. Páginas de autoridade duvidosa, sites de relacionamento e bate-papo virtual são mananciais de “lixo informativo e comunicativo”. É possível encontrar adolescentes aos milhares participando de grupos de discussão, os chamados fóruns, a respeito de temas os mais banais possíveis. Entre tanta banalidade, se encontram temas como: “nunca morri, detesto acordar cedo, minha cidade tem semáforo” e por aí afora.
Tanta sucata virtual acaba por influenciar o pensamento e a linguagem. Aquele se configura na alienação e atrofiamento do pensar, enquanto esta se torna um rebuscamento moderno que daria inveja a qualquer poeta barroco, tamanha a dificuldade de se entender a mensagem que se quer passar.
Palavras que exigem o mínimo de compreensão como, por exemplo, “você”, se transfigura num mísero e pobre “v”. Isso mesmo! Usa-se apenas a primeira letra para “tentar” passar o sentido da palavra. E o engraçado é que muitas vezes nem quem a utiliza diariamente consegue decodificá-la.
Muita gente liberal diz que isso não possui nada de negativo. Dizem que a molecada está falando com seu próprio código, porém já pode ser comprovado que tal pensamento em grande parte é errôneo. Muitos jovens já estão transportando tal código para textos formais, os quais não permitem tamanha modernização linguística.
Uma outra fonte de prejuízo está na televisão. Cada vez mais há programas repetitivos (novelas maniqueístas e séries enlatadas abordando a violência entre o mocinho e o bandido) e sem nenhuma pretensão educacional ou cultural.
No Brasil, os reality shows estão na moda. Vigiar a vida alheia e decidir se o fulano deve ou não ganhar o prêmio tornou-se uma diversão e dever de muitos brasileiros. Afinal, no dia seguinte não interessa saber quem ganhou o Nobel da Paz ou de Literatura, o político que desviou dinheiro público ou se o planeta está mais poluído. Ora essa, o que interessa é saber se A ou B foi eliminado do programa. Não saber quem foi o vencedor ou eliminado é como se uma parte da vida tivesse se perdido.
Na escola, então, o que resta ao professor que ainda heroicamente tenta transformar seu aluno em leitor e produtor de texto? A ele sobrou um tempo mínimo de cinco aulas semanais, em média, para lutar contra um sistema covarde “cultural” que usufrui mais de dez horas do nosso jovem, promissor, crítico e cidadão brasileiro. Um longo tempo de palavras e imagens que compõem informações na sua maioria insignificantes.
Com o pouco tempo, o professor deve insistir para que seu pupilo se dedique a Machado de Assis, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e, consequentemente, esboce seu pensamento crítico e redija textos coesivos e coerentes, dignos de prazer para quem os lê.
Mantendo um pequeníssimo fio de esperança, fico na expectativa de que o quadro mude. Torço para que um dia nossos comandantes percebam que ainda há tempo de salvar o barco. Os obstáculos estão cada vez mais próximos e poderosos, mas com um mínimo de reflexão é possível enxergá-los e desviar para o caminho de mares nunca dantes navegados, porém cheios de riqueza cultural e humana.
Vitor Miranda