Desde minha adolescência, quando comecei a ouvir Beatles,
aguardava ansiosamente um dia poder presenciar um show de um dos três
ex-integrantes até então vivos (infelizmente, tempos depois o George se foi).
Ontem (26/11), em São Paulo ,
no belíssimo novo estádio do Palmeiras, consegui finalmente ver ao vivo um show
de um Beatle. E que show!
Paul
McCartney fez mais um show antológico em sua carreira. É um dos poucos artistas
clássicos que consegue perfeitamente aliar alta tecnologia com a música de
ontem e de hoje. É de babar a precisão cirúrgica dele ao sincronizar os avanços
tecnológicos com a arte construída por ele, sejam as canções da carreira solo
ou conjuntamente as com os Beatles.
Live and Let Die certamente foi o ápice
entre tecnologia e música na apresentação de Paul. Apesar dos sedutores fogos estrategicamente
utilizados e seduzindo com a estética do fogo a atenção das pessoas, a música
não saía da mente de quem a recebia. Sem dúvida, Live and Let Die ao vivo é um grande espetáculo visual e sonoro.
Arrepia até o mais insensível.
Para falar
de outra gigante canção do show, difícil foi alguém ficar parado quando o
inglês começou a empolgante onomatopeia africana Ob-la-di Ob-la-da. Minha perna e a de muitos outros, depois de quase duas horas de show e mais um tempinho de fila, já estavam cansadas a
níveis de pedir um banco para repouso, no entanto, Ob-la-di Ob-la-da veio como um bálsamo e repôs a energia coletiva. Impossível ficar sem pular. Mais um
momento do show que arquivo na memória e no coração. Foi catártico!
E quanto
ao carisma? Falar do carisma do Paul é chover no molhado. Ele nunca abre mão de
ser o que é. Se lançou em frases ditas em português e arriscou, inclusive,
gírias. Interagiu sem forçar, sem ser pedante. Em um curto espaço de tempo, Paul
fez parte total do país anfitrião.
O poder de
um Beatle como McCartney fica claro na plateia. Não me recordo de um artista
clássico, com mais de 50 anos só de estrada, que consiga unir gerações
distintas de mais de meio século em grande número. Crianças uniformizadas com
camisetas dos Beatles ou do Paul, adolescentes, adultos e idosos compuseram
homogeneamente o público. E melhor: todos cantando. Foram a segunda voz das canções
e, em certos momentos, como Hey Jude,
o público se tornou a voz única, um coral beatlemaníaco nas terras do carnaval.
A noite
que começou no dia 26 e terminou no 27, inclusive com uma suave e até
sincronizada garoa, jamais esquecerei.
Gosto imensamente de música. Passar pela vida sem presenciar um show de um Beatle
seria, para mim, viver musicalmente com uma oceânica lacuna. Agora, felizmente,
a lacuna foi preenchida com letras e acordes de um dos meus maiores ídolos
musicais: Paul McCartney.
Vitor Miranda