sábado, 19 de junho de 2010

Saramago


Meu primeiro contato com a obra de José Saramago aconteceu na faculdade. Foi no meu curso de Letras em que li “Ensaio sobre a cegueira”. Um aluno de terceiro ano, tendo em mãos um autor que não obedece às formas convencionais de pontuação e escrita, além de uma obra que reflete aquilo de pior na humanidade, foi um choque. Choque artístico que me deu uma cicatriz na alma que jamais se apagará.

Ontem, Saramago nos deixou fisicamente. É uma tristeza. Porém podemos amenizá-la abrindo uma obra sua e entregar-nos a reflexões políticas e existencialistas.

A Língua Portuguesa, como sabemos, é pouco conhecida no mundo e apreciada. Sem dúvida, Saramago, único autor em Língua Portuguesa ganhador do Nobel de Literatura, elevou no planeta nosso rico e belo idioma. Depois dele, somos um pouco melhor vistos nessa questão. Ele, um clássico e moderno, provou que o talento e uma boa ideia partindo de uma análise extremamente crítica e muitas vezes extraída de um fato banal, podem elevar qualquer elemento desconhecido e dele descobrir uma essência que até então não víamos. Isso é Arte! Não há dúvida.

Só talentosos iguais a ele são possíveis de expor que a partir de um elefante ou de uma cegueira enxergue-se um conflito existencialista. Além disso, sua outra grande obra “As Intermitências da Morte” serve para que observemos a morte nossa e dele, por que não, de um prisma que foge ao senso comum da excessiva tristeza. Ela é necessária e muitas vezes um alívio.

Outra coisa em Saramago que pode ser comprovada durante toda a sua vida foi a fidelidade aos princípios ideológicos. Hoje, isso é quase inexistente. Em uma era de globalização em que estar à frente e vencer sem medir consequências é lei universal, vemos que as ideologias vão se sepultando à medida que são literalmente compradas. Porém ao longo de seus 87 anos, José Saramago mostrou-se, numa lucidez invejável para a idade, que ainda é possível crer numa ideia e defendê-la bem argumentada com unhas e dentes do princípio ao fim, independente das opiniões alheias.

Olhar para a vasta obra desse escritor lusitano é se deparar com o talento ilimitado que o habitava. Mesmo fazendo a mais fina Arte, ele extrapolou e dela tiramos política, religião, economia, existencialismo, filosofia... enfim, nos deparamos com tudo aquilo que estava em sua mente e por consequência posto brilhantemente no papel.

Saramago, obrigado por tanta beleza literária nos deixada.

Vitor Miranda

4 comentários:

Pedro Valdevite disse...

Como disse, a morte física faz-se necessária , mas a essência nunca há de se apagar !

Unknown disse...

amigo vitor!
meus parabéns por compartilhar todo esse rico conteúdo sobre saramago e sua escrita.

e que assim seja!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Four Girls * disse...

Vitor, quanto tempo.
Adorei todas as postagens, obrigada por compartilhar seus conhecimentos, extraordinários por sinal, através do blog.