quinta-feira, 17 de junho de 2010

Que país é este?

Hoje no Brasil por onde se passa é quase certeza de se encontrar uma bandeira ou pessoas trajando o verde-amarelo. A febre da Copa do Mundo contaminou quase todos. É comum ouvir de muitos que estão torcendo pela “nossa” seleção dizer: “sou patriota, amo meu país”.

Confesso que tal ideia não me seduziu nem um pouquinho. Não estou torcendo pelo Brasil na Copa e mesmo assim me considero brasileiro como outro qualquer nascido por aqui.

Patriota confesso que nunca fui, muito menos ufanista, principalmente se a questão é futebol. Não estou torcendo pelo time do Dunga por vários fatores, desde ideológicos a administrativos.

A overdose do verde-amarelo tem me causado várias repulsas. Falar que futebol é alienação é chover no molhado, especialmente hoje em dia. Somos bombardeados constantemente por inúmeras propagandas do faça isso, seja isso, use isso, seja guerreiro, viva a seleção, salve a seleção... Pois bem, isso tudo embaça o pensamento realista e faz com que se acredite que os 23 jogadores que nos “representam” e fingem que cantam o hino nacional, são, de fato, a honra de nosso país e defensores do nome do Brasil. Não são!

Futebol há um bom tempo é um negócio altamente financeiro. O que importa para a maioria dos envolvidos é fazer dinheiro. Há interesses em quem é o convocado, quem dará a entrevista e quem será vendido. Todos os jogadores, ou boa parte deles, têm como primeiro sonho ir embora dessa terra que eles “amam” e defender o interesse FINANCEIRO pessoal na Europa. Isso mesmo, a maioria de nossos apaixonados pela terra Brasil querem ou já moram na Europa. O amor maior que têm pela pátria é para se promoverem e conseguirem um contrato mais rentável no Velho Mundo.

Quanto aos nossos dirigentes, aqueles que estão há décadas nos altos cargos, estão a cada ano se enriquecendo e dando as ordens nos bastidores e no campo. Adoram tanto nosso país que quando há amistoso, mesmo sendo mandante, nossa seleção joga na Inglaterra, Estados Unidos, México...

Fingimos que os patrocinadores não comandam, que o critério de convocação é técnico e democrático. O resultado? Uma seleção repleta de jogadores que não jogariam nem nas piores equipes que disputam o mundial. Lembram-se do Hulk, do Afonso? Pois é, tiveram a chance que gratas revelações como os santistas Neymar e Ganso não tiveram na seleção canarinho.

Enquanto isso, ao limitarmos que patriotismo é futebol, esquecemos as eleições federais e estaduais que teremos em alguns meses. Deixamos de lado questões sociais e nem lembramos que a Educação e Saúde, por exemplo, vão caindo no abismo da precariedade. Agimos na fantasia do futebol para expor ao mundo que alguma coisa por aqui funciona e é exemplo para o mundo. E às vezes isso ocorre, pena que é efêmero e a realidade é outra.

Não pintarei meu rosto de verde-amarelo e muito menos vestirei uma roupa homenageando a nossa seleção europeia-brasileira. Mesmo sendo taxado como o do contra e chato, prefiro não contribuir ao pão e circo futebolístico a que muitos explicitamente aderiram.

Futebol é um jogo, a realidade, não.

Vitor Miranda

6 comentários:

Unknown disse...

que país é este meu caro amigo?

é o país do futebol e das mulheres bonitas;

é o país que fecha suas escolas para o carnaval passar;

é penta campeão mundial, ninguém aqui trabalha e todo mundo anda desnudo na maior parte do tempo;

é o pais do rebolation, das mulheres melancias; da garota uniban - sucesso no twitter;

o país onde o livro da bruna surfistinha vende muito mais que dicionários, livros didáticos ou cadernos, sem falar na podre cúpula em brasília.

querido vitor, a verdade dói, e não é pouco.

pior é pensar que, enquanto você daí escreve seu posicionamento e desabafo e eu daqui o leio e pondero sobre o que pensamos de nossa pátria, 74% de nossa população não consegue entender um texto simples e nosso país está em o 54º de um ranking de 57 países em matemática...

e ae galera? é campeão?

Vitor Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitor Miranda disse...

Mário, como sempre você com um olhar clínico da realidade e uma boa dose de humor. Admiro muito isso.
Então, meu amigo, o negócio, infelizmente, é esse: país em que 74% não entendem o mínimo de leitura.
E viva a nossa alienação!

ele disse...

bom, como o mario um dia mostrou este texto vítor para minha pessoa, prometi a ele que um dia entrerai em seu blog para lê-los e deixar um comentário, ou melhor, uma provocação sobre suas ideias e ideais...
para me identificar eu sou alexandre, estuda com o mario na faculdade...harry apelido do pessoal lá...porém, vamos a provacação:
Primeiro gostaria de parabeniza-lo pelos textos que você escreve, se vê que é um jovem preocupado para onde nosso país esta indo, ou democraticamente falando, para quem estamos entregando-o...
Mas algo me incomoda um pouco quando se fala de democracia, patriotismo, deveres que nós temos com nosso país, politica e politicagem, e demais valores que dizem que devemos fazer algo para um país carcomido desde de 1500.
Será que não existe uma preocupação grandiosa com o Brasil, quem devemos votar, pagar ou não pagar impostos e todo aquele discurso politico sobre o poder do povo, somos um país democratico, temos o direito de votar....e tudo isso que estamos cansados de ouvir.
Nunca presenciei o regime ditatorial no país e parabenizo os jovens que lutaram pelo seu direito de votar, mas minha critica azeda é para essa preocupação cega que temos com um país e com uma democracia totalmente vendida e corrompida e viramos as costas para simples problemas existenciais que acontecem a todos os instantes de nossa pacata e pequena vida...será que, como diria cazuza, com esses textos não vivemos em cima de um muro sólido e confortavel que se chama critica e não escolhemos um lado que nos coloque frente a frente com o que realmente merece nossa preocupação?
Politica ou Existencia? Poder ou Liberdade?

alexandre, ribeirão preto.

Vitor Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitor Miranda disse...

Alexandre, obrigado pelos elogios.
Sobre a questão da crítica, não acho que seja um muro sólido e confortável. Sólido não, pois tudo que é sólido se desmancha no ar. Conforto? Pelo contrário. Fazer crítica desse tipo é porque há um desconforto enorme.
Vejo a crítica como um ponto de partida para a ação, algo além de simplesmente ficar "no muro".
Sobre o patriotismo futebolístico, já estou na ação: não tomei cerveja influenciado pelos "guerreiros", não comprei meu Gol por causa do Robinho, não desperdiço meu tempo com os jogos do Brasil, enfim, acho que isso não é ficar no muro, concorda?
E para acabar, existência depende de política e liberdade depende de poder. Uma ideia não exclui a outra.
Para nossa existência pagamos imposto para sermos atendidos em hospitais, termos segurança, aposentadoria...
E o poder, tirar-nos-á ou dar-nos-á a liberdade.
Democracia? É o seguinte. Viramos as costas, como você disse, aos pequenos problemas porque vendemos a democracia. Se esta não tem muito valor para muitos, o que diremos dos pequenos problemas?