Hoje no Brasil por onde se passa é quase certeza de se encontrar uma bandeira ou pessoas trajando o verde-amarelo. A febre da Copa do Mundo contaminou quase todos. É comum ouvir de muitos que estão torcendo pela “nossa” seleção dizer: “sou patriota, amo meu país”.
Confesso que tal ideia não me seduziu nem um pouquinho. Não estou torcendo pelo Brasil na Copa e mesmo assim me considero brasileiro como outro qualquer nascido por aqui.
Patriota confesso que nunca fui, muito menos ufanista, principalmente se a questão é futebol. Não estou torcendo pelo time do Dunga por vários fatores, desde ideológicos a administrativos.
A overdose do verde-amarelo tem me causado várias repulsas. Falar que futebol é alienação é chover no molhado, especialmente hoje
Futebol há um bom tempo é um negócio altamente financeiro. O que importa para a maioria dos envolvidos é fazer dinheiro. Há interesses em quem é o convocado, quem dará a entrevista e quem será vendido. Todos os jogadores, ou boa parte deles, têm como primeiro sonho ir embora dessa terra que eles “amam” e defender o interesse FINANCEIRO pessoal na Europa. Isso mesmo, a maioria de nossos apaixonados pela terra Brasil querem ou já moram na Europa. O amor maior que têm pela pátria é para se promoverem e conseguirem um contrato mais rentável no Velho Mundo.
Quanto aos nossos dirigentes, aqueles que estão há décadas nos altos cargos, estão a cada ano se enriquecendo e dando as ordens nos bastidores e no campo. Adoram tanto nosso país que quando há amistoso, mesmo sendo mandante, nossa seleção joga na Inglaterra, Estados Unidos, México...
Fingimos que os patrocinadores não comandam, que o critério de convocação é técnico e democrático. O resultado? Uma seleção repleta de jogadores que não jogariam nem nas piores equipes que disputam o mundial. Lembram-se do Hulk, do Afonso? Pois é, tiveram a chance que gratas revelações como os santistas Neymar e Ganso não tiveram na seleção canarinho.
Enquanto isso, ao limitarmos que patriotismo é futebol, esquecemos as eleições federais e estaduais que teremos em alguns meses. Deixamos de lado questões sociais e nem lembramos que a Educação e Saúde, por exemplo, vão caindo no abismo da precariedade. Agimos na fantasia do futebol para expor ao mundo que alguma coisa por aqui funciona e é exemplo para o mundo. E às vezes isso ocorre, pena que é efêmero e a realidade é outra.
Não pintarei meu rosto de verde-amarelo e muito menos vestirei uma roupa homenageando a nossa seleção europeia-brasileira. Mesmo sendo taxado como o do contra e chato, prefiro não contribuir ao pão e circo futebolístico a que muitos explicitamente aderiram.
Futebol é um jogo, a realidade, não.
Vitor Miranda
6 comentários:
que país é este meu caro amigo?
é o país do futebol e das mulheres bonitas;
é o país que fecha suas escolas para o carnaval passar;
é penta campeão mundial, ninguém aqui trabalha e todo mundo anda desnudo na maior parte do tempo;
é o pais do rebolation, das mulheres melancias; da garota uniban - sucesso no twitter;
o país onde o livro da bruna surfistinha vende muito mais que dicionários, livros didáticos ou cadernos, sem falar na podre cúpula em brasília.
querido vitor, a verdade dói, e não é pouco.
pior é pensar que, enquanto você daí escreve seu posicionamento e desabafo e eu daqui o leio e pondero sobre o que pensamos de nossa pátria, 74% de nossa população não consegue entender um texto simples e nosso país está em o 54º de um ranking de 57 países em matemática...
e ae galera? é campeão?
Mário, como sempre você com um olhar clínico da realidade e uma boa dose de humor. Admiro muito isso.
Então, meu amigo, o negócio, infelizmente, é esse: país em que 74% não entendem o mínimo de leitura.
E viva a nossa alienação!
bom, como o mario um dia mostrou este texto vítor para minha pessoa, prometi a ele que um dia entrerai em seu blog para lê-los e deixar um comentário, ou melhor, uma provocação sobre suas ideias e ideais...
para me identificar eu sou alexandre, estuda com o mario na faculdade...harry apelido do pessoal lá...porém, vamos a provacação:
Primeiro gostaria de parabeniza-lo pelos textos que você escreve, se vê que é um jovem preocupado para onde nosso país esta indo, ou democraticamente falando, para quem estamos entregando-o...
Mas algo me incomoda um pouco quando se fala de democracia, patriotismo, deveres que nós temos com nosso país, politica e politicagem, e demais valores que dizem que devemos fazer algo para um país carcomido desde de 1500.
Será que não existe uma preocupação grandiosa com o Brasil, quem devemos votar, pagar ou não pagar impostos e todo aquele discurso politico sobre o poder do povo, somos um país democratico, temos o direito de votar....e tudo isso que estamos cansados de ouvir.
Nunca presenciei o regime ditatorial no país e parabenizo os jovens que lutaram pelo seu direito de votar, mas minha critica azeda é para essa preocupação cega que temos com um país e com uma democracia totalmente vendida e corrompida e viramos as costas para simples problemas existenciais que acontecem a todos os instantes de nossa pacata e pequena vida...será que, como diria cazuza, com esses textos não vivemos em cima de um muro sólido e confortavel que se chama critica e não escolhemos um lado que nos coloque frente a frente com o que realmente merece nossa preocupação?
Politica ou Existencia? Poder ou Liberdade?
alexandre, ribeirão preto.
Alexandre, obrigado pelos elogios.
Sobre a questão da crítica, não acho que seja um muro sólido e confortável. Sólido não, pois tudo que é sólido se desmancha no ar. Conforto? Pelo contrário. Fazer crítica desse tipo é porque há um desconforto enorme.
Vejo a crítica como um ponto de partida para a ação, algo além de simplesmente ficar "no muro".
Sobre o patriotismo futebolístico, já estou na ação: não tomei cerveja influenciado pelos "guerreiros", não comprei meu Gol por causa do Robinho, não desperdiço meu tempo com os jogos do Brasil, enfim, acho que isso não é ficar no muro, concorda?
E para acabar, existência depende de política e liberdade depende de poder. Uma ideia não exclui a outra.
Para nossa existência pagamos imposto para sermos atendidos em hospitais, termos segurança, aposentadoria...
E o poder, tirar-nos-á ou dar-nos-á a liberdade.
Democracia? É o seguinte. Viramos as costas, como você disse, aos pequenos problemas porque vendemos a democracia. Se esta não tem muito valor para muitos, o que diremos dos pequenos problemas?
Postar um comentário