sábado, 13 de outubro de 2007

Paulo Autran

Ontem, 12 de outubro de 2007, morreu aquele que, indiscutivelmente, foi um dos maiores atores do Brasil: Paulo Autran.
A primeira vez que vi uma peça dele foi há cinco anos no teatro Pedro II em Ribeirão Preto. A peça chama-se “Variações enigmáticas.”
A poucos metros de mim lá estava o Paulo, a voz inconfundível, os gestos ímpares e o perfeito domínio de palco. Não havia beleza material a ser vista no teatro, por mais belo que ele era e é. O enredo da peça deixou de ter importância, afinal, no centro havia Paulo Autran. Foi uma noite memorável.
Quatro anos mais tarde, retornei ao teatro para, novamente, assistir a ele. A peça agora era “Adivinhe quem veio para rezar.” Parecia que era a primeira vez que o via, tamanha foi a hipnose em que fiquei. Novamente, a beleza do teatro Pedro II e o enredo da peça foram ofuscados pela presença do ator principal do espetáculo. Um ator carismático capaz de pôr voz nos gestos e significados nas mais distintas cenas.
Uma das primeiras imagens que tenho arquivadas na memória sobre o Paulo Autran é uma atuação ao lado de Tonya Carrero numa novela da tv Globo, caso não falha-me a memória, a novela era “Sassaricando.” Na época, eu era menino. Aquele velhinho com uma voz de veludo, a cabeça com ralos fios de cabelo como dentes-de-leão desprendendo-se ao vento, as piadas de um humor simples e objetivo já começava a cativar o menino que ali assistia a ele. O menino cresceu e foi conhecê-lo ao vivo, naquele que era o lugar de sua preferência em atuar: os palcos de teatro.
Além do grande ator que foi, Paulo era um exímio declamador de poesias. Que doce, agradável e divino ouvir Drummond, Bandeira, Quintana e Casemiro de Abreu de sua boca. Na sua voz, a poesia ganha uma vitalidade tão grande quanto na pena dos poetas que a criou.
E, aproveitando o assunto “poesia”, foi justamente com ela que Paulo fez sua última aparição em público e, mais uma vez, emocionou a platéia ao declamar o belíssimo poema “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu.
Penso que ele escolheu a dedo o poema a ser declamado, pois é a saudade que nos faz reviver aquilo que mais amamos e nos tornou, em algum espaço do passado, felizes e fortes. Paulo já desconfiava que em breve deixaria a saudade entre seus admiradores.
Senhor Autran, muito obrigado por sua arte e seu amor espalhado entre nós. Já está em nós uma saudade de um dia sem você, saudade que se multiplicará dia após dia e, nela, declamemos numa paráfrase: “Que saudade que nós temos/ Do Paulo Autran de nossas vidas/ Que os anos não trazem mais.”
Vitor Miranda

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