Os grandes poetas sempre escreveram sobre o seu tempo vivido. É fácil constatar nas poesias de poetas como Carlos Drummond de Andrade as questões sociais de sua época. Os versos surgiam como grito para uma sociedade que caminhava entre o medo e a esperança de dias melhores em tempos de guerra e autoritarismo. Exemplo disso é o clássico drummoniano A Rosa do Povo, de 1945. Hoje, no entanto, dificilmente se encontra um poeta brasileiro engajado com questões como o terrorismo ou mesmo política local. O papel social do poeta atual é deixado por ele próprio.
No Brasil, se lê pouco. Poesia menos ainda. É raro um leitor ficar em uma livraria folheando um livro de poesia, ou mais raro ainda haver livrarias disponibilizando um bom número de livros desse gênero. Parece que houve um divórcio entre o leitor e o poeta. Este não mais produz seu grito poético de protesto e de formação de opinião. Os novos poetas parecem se negar a falar do mundo das pessoas.
Por outro lado, quando um poeta de hoje vai versar para as pessoas, cai no reducionismo sentimentalista ou mesmo intimista. O papel social aqui é descartado claramente. Não é necessário, para esses poetas, falar do salário de fome do brasileiro ou da violência. Tal reducionismo é semelhante ao poeta parnasiano, que fugia para as metafóricas torres de marfim. Essa atitude é covarde e egoísta. A palavra como meio de crítica social é forte instrumento. Não há melhor executor do que o poeta. É ele que sabe usar a palavra exata na hora exata.
Falar de poetas como Drummond é bom, mas deve-se citar os atuais também, quando eles merecerem. É lógico que a poesia é o grande valor de um poeta, mas sem dúvida o simples fato de só mencionar o nome de um grande poeta é valioso. A própria imagem dele para a sociedade é símbolo de influência à arte e comprometimento com direitos e deveres. Com a ausência da imagem do poeta e de sua poesia, o social fica enfraquecido.
A importância da arte da palavra para um povo é inquestionável. Por ela se diz o que pensamos e sentimos. E é justamente na poesia que ela assume seu papel de maior força. Todos nós precisamos de grandes poetas para nos ensinar a usar a palavra como arma de defesa social e pessoal. A ausência do poeta cria uma nação órfã e saudosista de poetas clássicos que já fizeram um bom trabalho para nós. É necessário que o poeta reassuma seu papel ativo na sociedade. Assim a poesia volta a viver e nós também.
Vitor Miranda