Quando eu era criança, costumava esquivar-me da morte quando ela era o assunto a ser mencionado ou ouvido. Havia um certo pavor em pronunciar a palavra e enfrentar esta grande certeza dos seres vivos. Cresci. O que era medo e matéria de maus sonhos não me assusta mais. Porém, sem dúvida, ainda é tema de conversa e leituras.
Numa aula dias atrás, uma aluna me perguntou se eu gostaria de viver para sempre. Minha resposta foi não. A pobrezinha se assustou com minha firmeza na resposta. Os jovens alimentam uma efêmera ilusão da eternidade. Primeiro acham que a juventude é eterna. Não contentes, pensam que a vida é eterna. Mas eles crescem e vêem que a eternidade realmente é mais irreal que Papai Noel.
Na conversa que tive com a aluna, comentei com ela sobre o belíssimo romance “As intermitências da morte”, do ótimo português José Saramago. Falei sobre as reflexões sobre a morte que há no livro. Importâncias que vão desde a economia ao desejo imenso de se morrer. (um desejo suave de descanso)
Dia-a-dia convivemos com a idéia do fim. Tudo que nos rodeia parece ser um prenúncio de que um dia iremos embora também. O sol nasce e morre e nasce no dia seguinte. Somos o sol que nasceu e morreu, mas não somos o sol que volta no dia seguinte. O que volta no dia seguinte são nossos descendentes que serão a noite no final do próximo dia.
Seria muito chato e daria muito trabalho aos outros se vivêssemos duzentos ou trezentos anos ou eternamente. Uma vida com sete ou oito décadas de vida bem gozadas seria suficiente para minha estadia por aqui. Mais importante que viver, é como viver.
Estar vivo é poder olhar para o dia e saber que você faz parte dele e produz para ele. Uma inatividade, a limitação aos prazeres dos olhos, tatos e outros nossos sentidos são modelos de sepultura viva.
A eternidade é dolorida e intolerável. Que bom que inventaram a morte. A vida é mais valiosa com a existência do fim.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Dolorida eternidade
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