Sábado, dia 27
de outubro, tivemos a honra de receber no Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto , o
talento e as inovações de Lenine, um cantor para os, minimamente informados,
que dispensa apresentações.
Não é de hoje
que Lenine recheia nossos ouvidos com boa música arquitetadas pelo seu amplo
talento. Olhando lá atrás encontramos verdadeiras obras como A Rede, A Ponte, O homem dos olhos de raio
X, Paciência, É o que me interessa.
Em É o que me interessa, podemos notar a
mestria linguística de Lenine por meio dos seguintes versos: A sombra do futuro / A sobra do passado/
Assombram a paisagem. Em três palavras (sombra, sobra, Assombram), num
trocadilho bem desenhado, a música se concretiza na mais alta competência
verbal. Talento! Puro talento vindo de Pernambuco.
Agora, em 2012, esse pernambucano nos cede a
maravilha do cd Chão.
Unindo
linguagens, o show de Lenine concebe, no útero do palco, a estética com um chão
(não se trata de trocadilho com o novo álbum) forrado pelo vermelho de uma
primavera que ao fundo traz sons de insetos. Juntam-se ao visual escuro, sem
ser barroco, melodias e letras, que raramente abandonam a poesia. Não é à toa
que encontramos a voz de Carlos Drummond de Andrade e referências a João Cabral
de Melo Neto durante as músicas.
Lenine canta,
dança e declama como se estivesse se aperfeiçoando para um produto final que, tomara
nunca tenha conclusão, afinal, enquanto ele faz essa busca, sempre nos
presenteia com belas e particulares canções.
Essa busca, de
certa forma, está ilustrada em uma de suas novas músicas. É do Chão que surge a metamúsica De onde vem a canção?, um dos destaques
do cd. Nessa música, o cantor se indaga e se indaga sobre a mágica do
surgimento da canção. Não há resposta, apenas o privilégio do não-saber e do
procurar.
Na
apresentação de sábado, Lenine brilhantemente engatilhou após essa música a
declamação de À procura da poesia, na
voz do próprio Drummond. Observa-se
que o músico faz trabalho de escultor com suas preciosidades musicais. Não
estamos diante de um compositor/cantor que procura inspiração, apenas, para suas
composições. Lenine é meticuloso com cada sílaba, tem preocupação estética e
semântica com o que faz.
Para quem acha
que a MPB é rica apenas devido ao passado, engana-se. Quem se prende aos grandes
lá de trás sem querer abrir os olhos para o presente, é porque se recusa a pôr
os pés no chão, que, muito próximo,
encontra-se e convida a todos para uma gostosa caminhada cheia de acordes bem
executados e ornados por letras extremamente poéticas.
Vitor
Miranda