Estava
assistindo, novamente, ao belíssimo filme francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e, numa das cenas, apareceu o
pai da protagonista no portão e ao seu encontro, numa tarde de ventos
agressivos, veio um carteiro. Pronto! Instalou-se a nostalgia em mim. Motivo ? A carta.
Sim,
leitor, uma carta. Talvez as gerações mais novas não saibam, mas houve um tempo
em que a internet e seu conteúdo como as mensagens virtuais, principalmente as
veiculadas pelas chamadas redes sociais, não existiam. A comunicação
não-pessoal restringia-se a meios como o telefone e cartas, por exemplo.
Hoje
dado o imediatismo e o avanço tecnológico, usam-se mensagens via internet e sms
quase o dia todo. Perdeu-se o artesanato da comunicação não-pessoal tão
romantizado nas cartas. Não mais temos o prazer de ler uma mensagem com a marca
pessoal de quem a fabricou. Muito menos de abrir o portão e receber a doce
visita do carteiro, que hoje se restringe, principalmente, a nos entregar boletos
de contas a pagar ou alguma compra via-internet.
A
carta tinha o problema da demora, da angústia que atormentava o destinatário
que sabia de alguma correspondência por vir e que não chegava. Mas em certos
casos, como um bom porto, a demora acabava dando mais sabor no recebimento.
Prazer impensável e desbotado para “nossas novas gerações” (obrigado pelo
verso, Chico!). Abrir o envelope, desdobrar o papel com suas irregularidades à
esquerda provocadas pelo arame do caderno, ler a data e o vocativo e beber cada
letra desenhada por mãos muitas vezes de nossa intimidade, eram ações de
extrema sensibilidade humana.
Temos
para hoje o privilégio da rapidez, que como pagamento nos exigiu o fim do
artesanato papel e caneta. Ficamos mais rápidos, mais comunicativos, porém
menos humanos e criativos.
Acho
que estou ficando velho ou mais adulto, apenas. Já alcancei Cristo com seus 33
invernos, no entanto, ainda guardo um pouco do que passou. Ainda sinto vontade de
escrever e receber cartas. Se possível, recebê-las no portão como o pai de
Amélie, com o vento feroz varrendo as folhas secas das árvores.
Vitor Miranda
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