segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A droga da falácia

José Mujica, presidente uruguaio
Não é de hoje que se fala em descriminar ou não a maconha. É melhor legalizar? Manter ilegal? As opiniões se dividem. É perceptível que a opinião pública, na sua maioria, defenda a criminalização. Nossos vizinhos lá do sul, os uruguaios, recentemente tiveram no país a legalização da maconha. E a respeito dessa legalização, o poeta Ferreira Gullar – um ex-bom poeta – escreveu uma coluna ontem (12) na Folha de S. Paulo. Impressiona como a sabedoria de Gullar não mais se faz presente no que ele produz.
O autor apresenta em seu texto que o Uruguai em breve passará a fazer a festa dos traficantes sul-americanos. Diz ele que a legalização uruguaia alimentará as vendas ilegais, ou seja, fortalecerá o comércio ilícito na vizinhança na América do Sul.
Muitíssimo improvável que a profecia de Gullar se concretize. Qualquer sujeito minimamente informado a respeito desse assunto sabe que a maconha não é uma droga que fortalece sistematicamente o narcotráfico e muito menos a que agrava rigorosamente os problemas sociais nos países. Drogas muito mais viciantes como a cocaína e o crack é que, de fato, mantêm e ampliam o poder e renda dos traficantes. A dependência dos usuários em relação a essas duas drogas, por exemplo, é realmente a grande preocupação. Ambas podem causar sérios problemas físicos e psíquicos ou mesmo matar o dependente químico.
Há quem diga que a maconha é uma droga mais leve, porém abre portas a outras mais pesadas. Ora, se isso é verdade, o que leva ao uso da maconha? O cigarro? Então que se exija do Estado o veto à venda do cigarro. E aproveitando carona no assunto, que se proíbam também bebidas alcoólicas.
Não faço aqui a defensoria da descriminalizarão da maconha. Estou, na verdade, discordando de argumentos tão falaciosos como os de Ferreira Gullar. A verdade não é minha, mas certos equívocos são inaceitáveis, ainda que façam parte de uma opinião. Por mim, dever-se-ia proibir cigarro, maconha e tantas outras drogas, caso realmente a preocupação governamental seja a dependência e a saúde das pessoas. Tais drogas são nocivas à saúde e o prazer dado é ilusório e efêmero.
Aceitar falácias como a de Gullar é desviar o foco do real problema das drogas e encobrir que cigarro e álcool também são drogas preocupantes.
Caso seja verídico o desejo do Estado em combater o consumo de drogas, ele precisa atacar mais efetivamente o comércio delas na fonte. Vigiar melhor as fronteiras e aumentar o rigor legal contra traficantes é o caminho mais lógico nessa guerra. Sem o produto não há o uso. Combater o usuário com opressão e fichamento é certamente mais ineficaz do que combater o produto.

Vitor Miranda

Nenhum comentário: