quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mundo imbecil 2


A História conta que quando as cidades começaram a surgir, o homem, fatigado e sofrendo com os árduos trabalhos no campo, não teve dúvida: veio direto para o espaço urbano.
Boa parte ao fazer isso inchou as cidades na ilusão de dias melhores. A vida urbana não se revelou tão boa assim. Nem ao menos havia os árduos trabalhos que existiam no campo. Era, em boa parte, uma imigração para a fome e miséria.
A invenção do avião, muitos anos mais tarde, trouxe uma alegria enorme. O homem colocava no ar pilhas de ferro e tornava as viagens mais rápidas, porém não muito seguras como se confirmava e ainda se confirma até hoje. O último desastre com o Air France é um exemplo da grande segurança aérea. Tanta felicidade com a modernidade tecnológica mostrou e mostra a cada dia uma nada grata revelação.
Até o computador não se vê livre dessa verdade. Ele quase sempre é vítima de vírus e lentidão no sistema. Aposentamos a velha máquina de escrever, sem levarmos em consideração que ela era menos vulnerável que uma máquina informatizada. Trocamos milhares de empregos como, por exemplo, bancários por caixa-eletrônico, guardas em guaritas nos shoppings por repetitivas gravações de robôs, comerciantes por serviços on line. Por incrível que pareça, ainda há quem goste ou finge que gosta.
Passo a passo vamos mudando as cores do mundo e vamos desaparecendo devorados por criaturas de nossa própria “inteligência”.

Vitor Miranda

terça-feira, 9 de junho de 2009

Mundo imbecil


Eu não sei, mas há alguma coisa estranha no ar. Não é de hoje que a imbecilidade vem dando as cartas na sociedade. É cada vez mais raro encontrar o bom senso e um olhar verdadeiramente crítico.
É comum nas escolas, nos grupos de amigos, na família, no trabalho, ouvir assuntos cada vez mais vazios e nada de preocupação com uma vida melhor e mais bem vivida. Não se discute se o momento tedioso, sem nada de especial, é fruto de nossas ações ou de algum setor que nos condena a cada minuto.
Viver o pouco com ilusão de ter muito está bem constante no planeta. Há uma robotização crescente da humanidade.
O mundo capitalista, ambicioso e preocupado com aquisição do palpável, se revela um câncer contra os hipnotizados por ele.
Vivemos numa época de interesses econômicos bizarros. Se paga para ser associável, para adquirir saúde, ter educação, segurança e lazer. O papo de democracia a fim de gerar uma nação melhor e mais igualitária parece que não deu muito certo. A única coisa que parece realmente quase democrática é a burrice, essa doença contagiosa muito admirada por cegos que pensam que veem.
Espalha-se por todos os lados um mundo estranho, de zumbis imbecis controlados por uma força ainda mais imbecil. Seria o fim?

Vitor Miranda

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Se não existisse a morte...

Desde tempos remotos o homem tenta, de algum modo, vencer ou adiar a morte. Ela é símbolo de tristeza, fim e início de uma vida espiritual, no caso das religiões que defendem isso. Tal senso comum muitas vezes não enxerga o grande papel dela na economia, na ordem biológica e mesmo na existência das religiões. Um mundo sem a morte seria o caos. O fim da vida de um ser quase sempre é contribuição para a vida de muitos outros.
O sistema capitalista tem uma relação fortíssima com a morte. É ela que criou funerárias e, por consequência, outros serviços relacionados. Caso se ausentasse do planeta, o desemprego aumentaria e contribuiria para uma recessão econômica. Não haveria razão a presença de planos de saúde ou de vida. O efeito dominó seria inevitável. Sem funerária, não haveria carro funerário, não haveria caixão. Comércio de flores e velas diminuiria consideravelmente.
Além disso, a ordem biológica do mundo também ficaria comprometida. Com seres imortais e pessoas nascendo a cada dia, alimentação e água seriam insuficientes para atender tantos consumidores. A luta por um grão de arroz e uma gota de água seria fato frequente na humanidade. Viver seria uma punição a todos, com o sofrimento por se passar fome e sede.
Um outro setor que seria afetado diretamente seria a religiosidade. Religiões deixariam de ser seguidas. Não haveria frenquentadores de um culto que pregasse a vida após a morte, até porque esta seria inexistente. O conflito barroco carne e perdão, tão presente na vida de muitas pessoas, passaria a ser apenas lembrança. Falar a respeito de religião seria assunto apenas dos livros de História.
Por mais dolorido que seja aceitar a nossa morte ou de quem amamos, é preciso enxergar que isso é um egoísmo. O mundo depende da morte para se renovar e continuar existindo. Se o homem se tornasse eterno, a sociedade viveria o caos da economia, fome, sede, sofrimento infindo e agonia por uma morte que jamais chegaria para dar-lhe o descanso. É preciso entender o seguinte paradoxo: a morte é que mantém a vida.

Vitor Miranda

domingo, 3 de maio de 2009

Pirataria: péssimo negócio

Geralmente quando se fala em pirataria no Brasil, o argumento de quem a apoia cai no senso comum de dizer que ela só existe porque os produtos originais são caros. Estes que assim pensam, não percebem que a pirataria é um veneno a todos os envolvidos. Ela contém inúmeros perigos para quem a alimenta e pode causar o fim de cantores, escritores e vários empregos.
Quando alguém vende um produto pirateado, sua única intenção é lucrar. Essa mercadoria na maioria das vezes está fora dos padrões de segurança. A matéria-prima é inadequada, chegando ao absurdo de se usar lixo hospitalar para a produção de bonecas. Além disso, pequenas peças podem ser ingeridas por crianças devido ao produto não ser inspecionado por um órgão responsável. Foge-se da legalidade pelo custo e, muitas vezes, paga-se com a vida.
Além disso, artistas e outros empregados que dependem da venda de produtos originais, ficam a um passo do desemprego. Com isso, gera-se um aumento de desempregados e a economia deixa de crescer, pois impostos desse setor econômico deixam de existir. Impostos, aliás, que pagam artistas, gravadoras e todas pessoas envolvidas com o comércio legal. É por isso que se paga mais por produtos originais.
Ainda há de se levar em conta que existe também outro aspecto negativo, no caso, a criminalidade. Seja o vendedor ou o comprador, ao fazer prática da pirataria, torna-se, automaticamente, um criminoso. Essa criminalidade ajuda na formação de traficantes e quadrilhas que, por fim, culmina em um quadro elevadíssimo de violência no país.
Praticar a pirataria é trazer para a casa perigos e aumentar a criminalidade no país. É fato que a legalidade possui custo elevado para a maioria das pessoas, principalmente no Brasil, onde o salário mínimo é mínimo mesmo. Por outro lado, escolher a ilegalidade não é a solução, mas sim a ampliação do problema.

Vitor Miranda

sexta-feira, 27 de março de 2009

Precisamos acender

Não vou aderir à chamada “Hora do planeta”, a campanha para que fiquemos uma hora no escuro sem as lâmpadas de nossa casa acesas. Isso não quer dizer que sou contra o meio ambiente, pelo contrário, sei perfeitamente que ele vem, há tempos, sendo castigado pelas ações ambiciosas e sem lógica da humanidade.
Não participarei da campanha pelo simples fato de ser, como dizem os que estão participando dela, um ato simbólico. A sociedade em geral está cheia de símbolos e quase sempre eles não são levados a sério.
A faixa de pedestres é, simbolicamente, um sinal a ser respeitado. Nela nenhum veículo poderia parar, principalmente quando o sinal está vermelho. O que se vê, no entanto e infelizmente, são veículos parados sobre ela. Obstrui-se, assim, o já pouco espaço do pedestre no asfalto.
Uma lixeira numa praça é símbolo para que nela se jogue o lixo que geralmente é arremessado na grama ou nas ruas. A maioria a ignora, desrespeitam o símbolo.
Na estrada, uma placa com os dizeres simbólicos “Velocidade máxima 100 km/h” é muitas vezes nem percebida ou ignorada. A fatalidade vem, e o símbolo fica fixado na terra sem nada significar.
As embalagens de cigarros com imagens de fetos, ratos, pernas amputadas e impotência sexual são símbolos chocantes que deveriam sensibilizar os fumantes ou iniciantes. São ignoradas.
A simples ação de aderir ao movimento “A hora do planeta” será apenas mais um símbolo. O que precisamos de fato, são de ações políticas e de prática imediata. O famoso protocolo de Kyoto quando foi assinado, um dos países mais poluentes do mundo, os Estados Unidos, recusou-se a assinar. Era uma ação política e séria que ajudaria muito o meio ambiente. Um ato simbólico, entretanto, é bem mais cômodo.
Enquanto ações políticas não forem bem pensadas e colocadas em prática, o mundo continuará alimentando símbolos que, como a História vem mostrando, serão fracassos e mais fracassos acumulados.
Não é preciso apagar, é preciso acender ações concretas e inteligentes que, realmente, apresentem resultados positivos.
Vitor Miranda

domingo, 18 de janeiro de 2009

A língua ainda é uma pátria


O acordo ortográfico entre os países lusófonos, que têm como argumento a unificação do idioma para uma melhor aceitação no cenário mundial, possui determinados pontos negativos. Os benefícios que o acordo trará, se é que trará, parecem que não levam em conta o preço que custarão.
A mudança na ortografia da língua portuguesa não poderia ter ocorrido em momento mais inoportuno que o atual. Considerando que o mundo passa por duas crises, uma econômica e outra ambiental, é no mínimo uma questão impensável colocar em prática essas mudanças, cujo acordo foi selado em 1990.
O Brasil, por exemplo, de ponta a ponta terá que recolher os livros didáticos das inúmeras escolas e substituí-los por outros com a nova ortografia. Numa só ação, já se tem dois agravantes ao país e ao mundo. As cifras usadas para a compra dos livros serão enormes. O Governo gastará valores altíssimos numa época em que gastar, ainda mais dinheiro público, requer muito planejamento, uma vez que a crise financeira global surge ditando regras para que os países não caiam em problemas altíssimos de desemprego, por exemplo. Se falta dinheiro aos cofres públicos, o país não cresce, regride. Além disso, para se fazer os livros, muita floresta diminuirá. Mesmo que se use futuramente a reciclagem dos antigos livros, haverá a necessidade de árvores no chão. O planeta que já está com seu verde na UTI, agravará um pouco mais o quadro.
A unificação da língua não pode ser encarada como o caminho para que o idioma seja único. É impossível ele ser um só. O idioma português como qualquer outro, não fica restrito a letras no papel. Ele faz parte da oralidade e da mistura com linguagens locais e estrangeiras, ainda mais quando se trata de uma nação em que povos do mundo inteiro fazem parte da formação de um povo colonizado.
A língua é um organismo em constante mutação. Sua transformação se dá de modo natural pelos falantes. O “você” que já foi dito de tantas formas, já é usado como “ocê”. Tal modificação não aconteceu devido a vontade de governantes, ocorreu porque o dia-a-dia nos pediu. Esse é um claro exemplo da rapidez do mundo contemporâneo que exige que a comunicação seja rápida também.
Por mais que se busque a união do nosso riquíssimo idioma entre os países lusófonos, ela sempre será incompleta. E isso não é ruim. Acontece que o idioma está preso, entre outras coisas, à cultura local. No Brasil, cueca continuará sendo peça íntima masculina e em Portugal continuará sendo feminina. Embora as palavras possuam mesmo significante (som), são constituídas de significados diferentes. É hilário dizer no Brasil: “Vá para o rabo da bicha”. Em Portugal, entretanto, não. Lá, rabo pode ser usado como final e bicha como fila. Logo, “Vá para o rabo da bicha” em português lusitano quer dizer “Vá para o final da fila”. É um exemplo totalmente cultural de dois diferentes povos que falam uma mesma língua.
Os portugueses são os que mais têm resistido ao acordo, dizem que os brasileiros querem abrasileirar o idioma, eliminando acentos e hífens. De um modo geral, não cabe aos nossos colonizadores pensar que eles são donos da língua portuguesa. Independente das transformações serem boas ou ruins, não é Portugal que baterá o martelo dando a opinião decisiva sobre as modificações na ortografia. Uma vez que um país espalha sua língua oficial em outros países, ele jamais poderá dizer que ainda tem plenos poderes sobre ela. É como o filho que é criado pelos pais e mais tarde atinge a maioridade e torna-se independente. Brasil, Angola, Moçambique são alguns dos filhos criados pela língua portuguesa dos portugueses que, com o passar dos anos e anos, já possuem sua língua portuguesa com muitas modificações em relação àquela que lhe foi imposta.
Embora o acordo ortográfico fique restrito à escrita, é impossível que não se discuta o maior uso da língua, que é na oralidade. Atingir a unificação do idioma é tarefa impossível. O falar das pessoas está condicionado pelo meio que vivem e da cultura que vivem. As diferenças ortográficas têm como consequência a oralidade de cada país. Muito do que é falado vai para o papel. Não podemos nos esquecer de que antes de o homem inventar as regras gramaticais, ele já usava as palavras na oralidade. A invenção de regras foi uma maneira de organizar a língua para que, talvez, ficasse registrada fisicamente. Não se pode, no entanto, ignorar que uma língua registrada é um objeto estático, e só possui valor quando parte para seu uso comunicativo, principalmente na oralidade do cotidiano.
Vitor Miranda

sábado, 17 de janeiro de 2009

Mais do que som


Na mitologia grega, Orfeu tinha o dom da música. Por meio dela encantava os ouvidos humanos e dos animais. Nunca vi Orfeu, mas a arte dele sempre ouço. É difícil imaginar viver num mundo sem música. Já de pequeno, ainda no berço, as primeiras melodias são soadas para que possamos dormir. Sem nada entender, aceitamos a beleza sonora e caímos no delicioso sono pueril, fazendo do mundo apenas um lugar que fica lá fora com a música sendo o escudo que deixa a vida dentro do espaço do berço.
É muito agradável ouvir uma bela música. O prazer vindo dela pode ser pela simples melodia ou pelo casamento da melodia com a letra. Acontece que nos dias de hoje ela não é vista exatamente como uma arte pela maioria de seus autores. Não se pode classificar qualquer tipo de som como música, é cair no erro de achar que japonês é o mesmo que chinês.
Antes de qualquer coisa, a música se propõe a passar ou provocar um sentimento real e permanente. Qualquer ouvido sensível que se depara com Beethoven ou Mozart, mesmo não tendo nenhum conhecimento mínimo sobre música erudita, se rende ao prazer sonoro de suas composições. Uma sinfonia de Beethoven eleva a alma a um patamar impossível de ser medido. Tudo deixa de existir e o corpo torna-se um pequeno átomo revestido de prazeres artísticos.
Por ser uma das mais importantes artes, a música frequentemente nos remete a outras artes. Na minha adolescência, fui um adolescente como a maioria, um cavalo que trotava sem paradeiro num vale interminável e cheio de surpresas. Foi então que conheci duas músicas de uma banda que marcaria a minha formação e continua marcando. Faroeste caboclo e Pais e filhos, ambas do grupo Legião Urbana.
Pela primeira vez na minha vida eu parei para analisar uma música. E foi nessa etapa que descobri que a arte é sentimento. Descobri que a voz misturada com acordes transmitia a ideia de que o mundo era um lugar de grandes valores. A narrativa de Faroeste caboclo sobre um sujeito que sofrera os mais duros golpes na vida, se mostrava como filme, conto, música, pintura... A arte se revelou viva para mim. Poderia ter se manifestado de qualquer forma, mas se manifestou como música.
Pelas músicas da Legião Urbana descobri Manuel Bandeira e Camões, além de partir para Beatles e crescer em mim uma crítica televisiva e consumista. Ouvi, para grande espanto, Geração Coca-Cola. Mais tarde, ao findar minha adolescência, caio na MPB e nela conheço Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano, Geraldo Vandré... O jovem da Legião Urbana tinha acrescentado mais arte sonora ao seu mundo.
Mas a música não está só em mim. É inegável a importância dela nas mais distintas culturas. Ela não apenas embala o sono do bebê e desperta um adolescente para a vida, ela carrega por séculos tradições de homens que começaram a escrever a história que escrevemos hoje. As festas juninas só ganham vida na sanfona e nos cantares. Dançamos ao som da música, louvamos a fé pelo canto. O folclore brasileiro é impraticável se a música se fizer ausente de sua base. Bumba-meu-boi não bumba sem o bumbo, e este só deixa de ser um objeto quando dele nasce o som, a música secular.
Em algumas escolas no Brasil ainda se pratica o canto do hino. Muitos só se lembram dele na época da Copa do Mundo, e olha que os homens de chuteira raramente conseguem cantá-lo até o fim. A letra a eles e até a muitos estudantes é matéria de ignorância. O hino nacional é por excelência um dos maiores símbolos de uma nação. Celebramos por música o respeito e orgulho por nossa terra natal.
Podem me chamar de ignorante, mas sempre defenderei a boa música. Não se houve músicas antigas porque se é saudosista, ouve-se porque não há mais a preocupação com a boa letra e melodia na atualidade. Castigar os tímpanos com o som esdrúxulo dos que se dizem artistas é a soma de todas as imbecilidades possíveis. A arte é expressão de sentimentos que jamais devem ser passageiros e inócuos. Ela é expressão permanente que deixa a vida mais bela e melhor de ser vivida.

Vitor Miranda

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O dono da casa


Imagine a seguinte situação: você tem uma casa de cinco cômodos. Dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Num determinado dia, alguém lhe impõe de modo draconiano que sua casa será dividida entre você e outro alguém. Esse alguém fica com os dois quartos e a sua sala. Qual seria seu sentimento e reação?
A situação acima é mais ou menos o que está ocorrendo entre Israel e Palestina desde 1947, data em que a ONU oficializou em terras palestinas o Estado de Israel. A casa, nessa situação, pertence à Palestina.
A guerra que está ocorrendo entre Israel e Palestina tem como fato principal o não reconhecimento por parte dos palestinos de que Israel é um Estado. Ocorre, entretanto, que há aqui uma disputa desleal. Israel, muito bem armada e apoiada por grande parte do Ocidente, principalmente pelos Estados Unidos, bombardeia diariamente o território da fraca Palestina, que nada tem de apoio e armas avançadas.
Por mais que se busque uma resolução justa para a causa, apesar de que raramente há soluções justas para uma guerra, sabemos o destino disso tudo. Israel com um armamento e apoio superiores aos da Palestina, tomará ainda mais territórios pertencentes aos palestinos. Como consequencia, Palestina ficará ainda mais enfraquecida e, numa provável e futura reação como esta que estamos presenciando da Palestina contra os judeus, a fraqueza palestina crescerá. O dono da casa perderá todos seus cômodos, todo seu território.
É difícil entender por que a ONU, criada para ter decisões acima da vontade de uma nação, não toma uma posição justa e explícita. De nada adianta por no papel que pediu trégua aos ataques contra os palestinos, que a cada dia precisam de covas e mais covas, principalmente para crianças e outros civis. A ONU precisa tomar uma atitude prática, de caráter objetivo para que a injustiça promovida pelos judeus de Israel não avance mais.
Apontar que os mulçumanos são terroristas, principais promovedores de ameaças ao mundo, é uma atitude totalmente descabida e infundada. As mortes que um terrorista promove em ataques são as mesmas que a globalização, tão glorificada pelas grandes nações, nos presenteia. O problema é que o sangue derramado em massa pelas bombas terroristas são mortes com causas explícitas. Agora, a ferrenha disputa em que vivemos devido ao sistema econômico que predomina no mundo, provoca mortes quase que indiretamente. Por vivermos numa selva em que não há vagas para todos trabalharem, terem um lar e outras necessidades básicas, disputamos com nosso semelhante um lugarzinho ao sol. Quem não consegue o lugarzinho ao sol procura de outras maneiras sobreviver. Sem trabalho, oportunidade, nasce uma porta para a criminalidade, para a violência. Nela o roubo, o sequestro, o estupro, agressão e o assassinato surgem provocando o mesmo efeito dos terroristas. Sendo um quadro muito bem maquiado as disputas de nosso dia-a-dia, é fácil apontar que o terrorismo mulçumano é ameaça maior ao mundo.
A cultura de qualquer povo deve ser respeitada. O Ocidente muitas vezes não aceita nem suas próprias diferenças, e quando o assunto é a cultura oriental, mais precisamente a dos mulçumanos, aí que essa aceitação é inexistente mesmo. É difícil aceitarmos que do outro lado do mundo há povos muitos diferentes de nós. Não aceitamos o deus deles mas queremos que eles aceitem o nosso. Se eles valorizam a morte, dizemos que eles são loucos. Impõe-se, como quase sempre, mais ou menos como fizeram com nossos índios, a troca do pensar. Tudo que é do outro culturalmente é sem valor, vale aquilo que é meu. O índio não enxerga mais no sol, na lua e na natureza os seus tradicionais deuses. Tudo lhe foi imposto. O mais fraco é obrigado a vender o que é seu sem nada ganhar.
O bombardeio israelita contra a Faixa de Gaza até parece uma vingança de um povo que muito sofreu durante a História. Acontece, no entanto, que estão bombardeando alvo errado por estarem num lugar que não lhes pertence.
O horror do holocausto sensibilizou o mundo durante a Segunda Guerra. Ver a intolerância contra os judeus, seres humanos sendo mortos pelo preconceito e, também, por invasões nazistas em territórios alheios, era inaceitável. A vítima, contudo, parece que virou algoz. O homem é uma criatura que procura aprender com os maus exemplos os maus exemplos, sendo que deveria aprender com os maus exemplos aquilo que não se deve fazer.

Vitor Miranda


Grande sertão: roseano


Falar bem de uma obra de João Guimarães Rosa é chover no molhado, ainda mais quando se trata de Grande sertão: veredas. Depois de quase dois meses, terminei de ler esse único romance de Guimarães Rosa. Ao longo da leitura tive uma alegria e uma tristeza. A alegria se deu pelo início da leitura e a tristeza pelo livro ter terminado.
Grande sertão: veredas é uma daquelas obras que o leitor torce para que não acabe. Cada página, narrada com maestria pelo narrador-personagem e ex-jagunço Riobaldo, é um prazer único e fonte de profundos conhecimentos. A linguagem, a filosofia, a crença, a geografia do sertão e o amor se entrelaçam edificando esse que é um de nossos maiores romances.
Muito se fala sobre o Grande sertão: veredas, mas como comentou comigo certa vez um amigo escritor, são poucas as pessoas que já leram a obra, inclusive professores de literatura e língua portuguesa.
A leitura dela é de fundamental importância para quem realmente aprecia a boa literatura brasileira ou para o profissional da área de Letras. Guimarães nos ensina a geografia do sertão sem se preocupar em ser didático. A naturalidade do espaço sertanejo é posta nas linhas pela linguagem que revela quem é o homem e onde ele está.
Riobaldo ao longo da narrativa ao seu interlocutor, que aparece nomeado por “senhor”, esclarece passo a passo quem foi o grande amor de sua vida, além de discutir sobre a existência ou não do diabo.
Aquilo que envolve sua situação amorosa com Diadorim é digna obra prima de construção literária no âmbito da paixão. Por baixo da dureza da figura do jagunço Diadorim, estão o coração, corpo e alma feminina. Isso passo a passo é trabalhado ao longo de deliciosas seiscentas páginas. O amor por Diadorim, que a princípio era um homem, deixa o jagunço Riobaldo inconformado. Como era possível ele ter se apaixonado por um homem? Mas não era homem, Diadorim era ela. Tal descoberta só ocorre quando Riobaldo não mais pode consumar seu grande amor. Diadorim é morta numa luta com o jagunço Hermógenes. Diadorim era tão sensível que até o nome dela lembrava de um passarinho, como dito por Riobaldo ao longo do texto. O que se pode ver nessa situação, é que o amor de Riobaldo por Diadorim conseguiu enxergar aquilo que os olhos não conseguiram. É o sentimento perfurando regras morais e se mostrando verdadeiro. Riobaldo não amava um homem ou uma mulher, Riobaldo amava Diadorim.
O demônio existe ou não? A dúvida da humanidade também é a de Riobaldo. Ele, entretanto, chega a uma conclusão: o demônio existe nas ações do homem. Assim pensa Riobaldo, que nos apresenta uma multiplicidade cultural para nomear o demônio. Cramulhão, Temba, Coisa Ruim, O-que-nunca-se-ri... e por aí vai. É filosófico pactuar com o demo. Se a alma pertence a Deus, não se pode vendê-la, conclui Riobaldo.
A obra compõe-se também de pequenos “causos” que vão acrescentando ainda mais qualidade às questões principais do romance. É primorosa a história de Maria Mutema, mulher que assassina o marido com chumbo derretido no ouvido e faz com que um padre se mate por ela. Riobaldo narra a história com poeticidade na linguagem, com coloquialismo e neologismos, algo que ocorre praticamente durante toda essa narrativa.
Ler Grande sertão: veredas é mais do que um exercício de leitura. É um aprendizado de vida, é a chance de conhecer um pouco do sertão geográfico para conhecer o sertão que se esconde dentro de nós. Amor, ódio, vingança, esperança, ilusão, tudo está no livro. E se tudo isso está na obra, então se pode concluir, sem nenhuma dúvida, que João Guimarães Rosa escreveu o que é a vida. E a vida se faz pela linguagem.
Vitor Miranda

domingo, 4 de janeiro de 2009

Metamorfose verbal e sonora

Geralmente quando o homem busca o progresso, está buscando melhorias. O automóvel de hoje é mais confortável, o fogão de hoje é a gás, não a lenha; o relógio é digital, não é a corda, enfim, várias e várias transformações ao longo do tempo.
Assisti recentemente a duas entrevistas. Uma foi com o escritor Carlos Heitor Cony, a outra com o músico Kid Vinil, roqueiro brasileiro da década de 1980. Este falou sobre música, óbvio, aquele sobre literatura.
Chamou-me a atenção a opinião de ambos sobre o progresso de suas respectivas áreas, mais propriamente sobre os instrumentos que envolvem a música e a literatura. Sobre a literatura, o instrumento em pauta foi a velha e dinossaura máquina de escrever. Cony falou sobre o imenso trabalho que era a correção dos textos em épocas em que o computador não existia, épocas das Olivetti e outras marcas. Para quem não chegou a conhecer as máquinas de escrever, é bom que saiba que não havia nelas uma tecla que apagasse uma palavra ou letra digitada incorretamente. A tarefa de correção do escritor era feita de modo cansativo. Ou se jogava fora o texto já datilografado e fazia-se a correção, ou rabiscava-se o papel no determinado erro, embora depois o escritor escrevesse novamente seu texto em outra folha fazendo a correção em determinada palavra ou idéia escrita incorretamente.
Era comum o escritor gastar vinte ou mais folhas de papel para conseguir escrever corretamente uma. As pilhas de papel que se formavam eram comuns. Em tempo de consciência ambiental, não seria muito prudente gastar tanto papel assim.
O surgimento do computador fez com que a aposentadoria da máquina de escrever fosse decretada. Hoje com uma tecla se apaga um texto inteiro. É uma revolução que veio a ajudar o escritor e o meio ambiente. Um livro de trezentas páginas feito em uma máquina de escrever derrubava muitas árvores, o que foi diminuído com a utilização do computador para digitar os textos.
Já na música, a evolução não chega a ser tão prazerosa assim. Os discos ou vinis, os chamados “bolachões”, já não são mais usados. Aos poucos foi perdendo espaço para o cd, dvd e o mp3. Hoje é possível baixar músicas na internet antes mesmo de elas chegarem às lojas. Não há mais a expectativa que se tinha em esperar chegar o disco às lojas, fazer filas e garantir o novo disco do Eric Clapton, do Bob Dylan, só para citar dois monstros do pop mundial.
É incontestável a praticidade dos novos formatos musicais, além do fim do chiado nas músicas tornando o som delas mais claros. Mas por outro lado, ocorrem os prejuízos, não especificamente os direitos autorais, isso é uma outra história. Como já citado, há o fim da expectativa da chegada do novo álbum do artista às lojas. Fora isso, se pegarmos o trabalho gráfico das capas dos discos de antigamente, notaremos que tamanha beleza está sepultada. Muitas vezes a capa era um desafio interpretativo. Só para ficar em um exemplo, peguemos uma capa clássica: a do disco Abbey Road, dos Beatles. Nela há a sugestão da famosa lenda sobre a morte de um de seus mais célebres integrantes, Paul Mccartney.
As mudanças não param por aqui, é evidente que até o computador e os novos formatos musicais estão sujeitos a sofrerem mais progressos. O que ocorre também é que a cada progresso alguma coisa boa fica para trás. O grande problema disso tudo é que muitas vezes a qualidade do artista também muda, e para pior. As facilidades geram, em alguns casos, o comodismo. A mente deixa de trabalhar, se esforçar e a boa literatura e música ficam no passado.
O ideal seria que o progresso apenas trouxesse aquilo que realmente é bom, facilidades e bons artistas. Porém, como há sempre os dois lados, temos que saber aproveitar o que surge de positivo e guardar um espaço na memória para a saudade daquilo que se foi e que um dia foi bom, muito bom.

Vitor Miranda