Há 20 anos o diretor Martin Brest
lançava um dos melhores filmes da carreira do talentoso Al Pacino: Perfume de Mulher.
No
filme, narra-se a história de um homem que acidentalmente fica cego, o
tenente-coronel aposentado Frank Slade (Al Pacino). Ele vai a Nova Iorque
acompanhado pelo estudante Charlie Simms (Chris O'Donnell) para passar um final
de semana. Frank é extremamente amargo com as pessoas e com sua própria vida.
Charlie aceita o trabalho temporário porque é bolsista na faculdade onde estuda
e está precisando de dinheiro.
Al
Pacino chega a beirar a perfeição nessa atuação. Não é à toa que ganhou o Oscar
de melhor ator em 1993 por esta performance. O discurso militar, observado logo
no primeiro encontro entre Frank e Charlie, e a representação do que é, de
fato, um cego enchem os olhos do apreciador da sétima arte. Pacino esbanja
talento em mais de duas horas.
A
crítica áspera de Frank vai a tudo e a todos, inclusive à família. Diz ele a
respeito de sua irmã, cunhado e sobrinhos: “Ele é mecânico e ela dona de casa.
Ele entende tanto de carros quanto uma miss e ela faz biscoito com gosto de
pneu. Quanto às crianças, são umas pestes.” Ora, têm-se aqui um Boca do
Inferno? Parcialmente, sim, no entanto, ao longo do filme Frank vai se
interessando pelos problemas de Charlie e percebendo que, problemas, todos os
têm. Dessa forma, o amargo de Frank vai ganhando gotas de adoçante.
A
intenção do coronel inicialmente é a de se matar depois desse final de semana,
pois já não suporta a vida limitada à escuridão. Mas os obstáculos da vida de
Charlie e o próprio estudante com sua personalidade, que sai do barro disforme
para ganhar formas concretas, afrontam o coronel. Indiretamente o estudante
apresenta-se como uma epifania a Frank.
O
notável e inesquecível do filme não é a amargura de Frank, nem seu desejo voraz
pelas mulheres, mas sim a cena da desconstrução da fera pela bela. A fera,
neste caso, é a aspereza do tenente-coronel, e a bela é a arte do tango,
especialmente porque se trata de um dos maiores clássicos de Carlos Gardel, Por Una Cabeza. Na cena, Frank dança com
uma belíssima mulher, Donna. A cada passo efetuado pela dupla obtém-se a
catarse proposta pelo fatalismo sugerido pelo tango de Gardel.
O
tango dançado por Frank e Donna está, sem sombra de dúvidas, entre as mais
belas cenas já produzidas pelo cinema mundial.
Embora
o filme centralize suas potencialidades em Frank, a fotografia não deixa de ser
muito bem trabalhada. Ainda no primeiro encontro do tenente com Charlie, o
estudante encontra o ex-oficial sentado ao fundo de uma sala com pouca
luminosidade. E é justamente na origem da pouca luminosidade do local que temos
uma simbologia interessante. Um facho de luz passa pela janela numa clara
alusão a uma luz divina, típica das igrejas góticas, para iluminar Frank
sentado, todo poderoso e autoritário com o jovem estudante. Nada de sagrado há
aqui, porém a ideia de poder não passa despercebida.
Certamente
Perfume de Mulher é um daqueles
perfumes que se recusam a perder o aroma em nossa memória cinéfila. Assistir a
ele é uma experiência marcante, revê-lo é a confirmação disso.
Vitor Miranda
2 comentários:
Em troca de ter aprendido com o jovem a dosar sua amargura, Frank parte em sua defesa no final, gerando uma catarse tremenda com seu discurso crítico. Excelente filme que retrata as trocas de experiências entre os mais maduros e os mais jovens... assim como Encontrando Forrester.
Ótimo texto!
O filme é um leque de informações e belezas. A catarse final é mais uma parte que daria uma outra resenha.
Obrigado pelo cometário crítico, Nat.
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