Na mitologia grega, Orfeu
destacava-se por ser um músico de extrema habilidade. Com sua lira herdada de
Apolo, conseguia até acalmar as feras mais selvagens. A beleza e harmonia de
sua música hipnotizavam mortais e imortais, tamanha a qualidade do que
executava. Pois bem, e esse Orfeu, não mitológico, mas humano e mineiro,
desfilou seu talento musical em Ribeirão Preto há dois dias. Ele atende há anos
por Milton Nascimento.
Milton
Nascimento é um patrimônio cultural brasileiro. Qualquer tentativa de
qualificar a sua espetacular voz particular é em vão. Aliada a essa
suave voz, estão centenas de belíssimas canções compostas por ele ou em parcerias. Ouvi-lo ,
ao vivo, é um privilégio e uma grata experiência ao bom gosto musical e aos ouvidos.
O
show em Ribeirão começou com lapsos dignos de um Casemiro de Abreu. Iniciou-se
o espetáculo com Bola de meia, bola de
gude. Um passeio com palavras e melodia para resgatar na memória a infância
e expor que ela adormece em nós (há um
passado no meu presente). Aliás, já dizia nosso Machado de Assis que o menino é pai do homem. Milton confirmou.
Milton
Nascimento é um dos raros artistas que atravessam décadas e décadas com o mesmo
talento que o consagrou há muito tempo. Chovendo no molhado: “Não é difícil
chegar ao topo, mas sim manter-se lá”. E o Milton se mantém, ou melhor, o topo
recusa-se a deixá-lo sair.
De
todas as músicas dele, a que mais me emociona e mais gosto é Travessia (diga-se de passagem, trata-se
da música de que mais gosto entre todos artistas). Melodia e letra dariam
inveja a Orfeu. Travessia apresenta
as dificuldades (problemas, frustrações?) da vida e expõe que tais podem ser
superadas quando se recusa a fugacidade. O abandono, o saudosismo, a fuga, a
solidão, o amor, o abrigo inóspito apresentam-se no caminho de pedra e o
sujeito olha para frente e nota que as estradas são múltiplas. Sempre é
possível mudar.
Quem
esteve presente no show certamente saiu com mais poesia na vida. E quem suportaria
a vida sem poesia?
Vitor Miranda
3 comentários:
Não fui a esse show, Vitor, mas, graças a suas palavras, pude imaginar a beleza e sensibilidade que os que lá estiveram presenciaram e compartilharam.
Beijo,
Dani
Não fui a esse show, Vitor, mas, graças a suas palavras, pude imaginar a beleza e sensibilidade que os que lá estiveram presenciaram e compartilharam.
Beijo,
Dani
Obrigado pelas palavras, Dani. E sim, beleza e sensibilidade transbordaram na apresentação do Milton.
Postar um comentário